Um gato branco, rameloso e de pêlo longo, pateia com a reticência natural dos gatos o telhado de cimento de uma casa da zona leste da cidade de Jenin, na Cisjordânia. Entre uma cadeira de plástico e uma grade para garrafas de vidro virada para servir de assento, o bicho demora-se a cheirar uma mancha acastanhada de sangue antes de se chegar às pernas de Adham Zakarneh.
“Depois de as forças israelitas se irem embora, o meu tio mandou-me chamar a minha irmã”, disse Adham à Al-Jazeera. “Encontrei-a morta, com o gato ao seu lado”, explicou o rapaz palestiniano de 13 anos. A sua única irmã chamava-se Jana Zakarneh e tinha 16 anos. Foi morta a tiro pelo exército israelita na noite de 11 de dezembro. A jovem terá subido ao telhado, segundo a sua família, para ir buscar o seu gato, Lulu, depois de ter ouvido tiros nas imediações da sua casa. Jana foi atingida quatro vezes: duas na cara, uma no pescoço e outra no ombro.
Não passava das dez da noite quando soldados israelitas, que supostamente procuravam “terroristas armados”, se envolveram numa “troca de fogo”, segundo o Middle East Eye. Num comunicado oficial das Forças Armadas Israelitas (IDF), o exército assumiu a responsabilidade pela morte da adolescente, declarando todavia ter sido acidental, afastando assim responsabilidades criminais. Jana estava “nas proximidades” do “ambiente de combate” e os soldados “estavam a disparar para todos os lados”, acrescentou à CNN Majed Zakarneh, pai da jovem palestiniana.
A palestiniana de 16 anos foi uma das 146 pessoas assassinadas em 2022 pelas forças de ocupação israelitas só nos territórios da Cisjordânia, segundo o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU. Se incluirmos Jerusalém Ocidental e a Faixa de Gaza, o Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana (AP) diz que o número sobe para lá dos 250 mortos. Além disso, há milhares de palestinianos, inclusive centenas de crianças, detidos em prisões israelitas, com organizações de direitos humanos a alertarem para consecutivos abusos e até torturas.
Nesta conta macabra estão 47 menores, como Jana. Três dias antes, Diaa al-Rimawi, também de 16 anos, foi morto com dois tiros nas costas por atirar pedras contra viaturas dos militares durante uma incursão do exército no norte da cidade de Ramallah. O corpo do jovem foi levado pelos militares, impedindo a família de proceder ao seu funeral e respetivo luto.
Os ataques terroristas contra cidadãos israelitas também aumentaram em cidades como Telaviv e Jerusalém, contando-se pelo menos 27 vítimas mortais. Além de ataques individuais, nos quais se incluem esfaqueamentos e espancamentos, na manhã de 23 de novembro rebentaram dois engenhos explosivos no norte de Jerusalém, com meia hora de diferença entre eles.
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Yara Hawari | Radio Free (2023-01-04T22:10:23+00:00) NETANYAHU ABRAÇA A EXTREMA-DIREITA: “ACABOU A FANTASIA” DA DEMOCRACIA ISRAELITA. Retrieved from https://www.radiofree.org/2023/01/04/netanyahu-abraca-a-extrema-direita-acabou-a-fantasia-da-democracia-israelita/
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